Hello, Lady and Gentleman.
Prazer estar aqui, nós três. Eu, você e eu.
Então é o fim. Ultima resenha da sequencia #TrêsBiografias
Vamos fechar com chave de outro. Vale Tudo. Tim Maia.
Mas, se você ainda não viu, confere aqui a biografia do Sidney Poitier e da Maysa
Sobe o som e vamos nessa.
Vale Tudo
O Som e a Fúria de Tim Maia
Subtítulo mais apropriado não há.
Me encontro na mesma situação da resenha anterior – Maysa -. Sou fã desse cara. Gosto da música, da loucura, swingue e personalidade. Então acabo sendo suspeita para tecer qualquer comentário imparcial sobre o Rei da Cornitude.
Com um agravante: sou muito apaixonada pelo biógrafo Nelson Motta. Então se não quiser ler um grande “rasgar de sedas”, pare por aqui.
Dito isso, vamos embarcar na balada black desse som que se confunde com fúria.
Vale Tudo- Som e Fúria de Tim Maia – Nelson Motta
Biografia não se resenha. Biografia se sente. Levando em consideração que o homenageado da vez é um poço profundo de sensações, estamos em casa.
Sebastião Rodrigues Maia. Tião Maia. Mas isso não é nome de artista. Que seja Tim.
Seguindo a regra que os caçulinhas são sempre os piores, as vezes melhores – tal e qual a criatura que vos fala – deu o ar da graça dia 28 de setembro de 1942. E desde então fez do mundo um lugarzinho muito mais animado.
Sempre polêmico, grosseirão, doido de pedra. O Síndico – eleito pelo Jorge Ben e aceito por todos – é um exemplo básico – posso chamar essa força da natureza de básico?- de extremo.
Ele era muito. Ele era tudo. Sempre quis ser muito. Sempre foi tudo. E nada.
O gordinho mais simpático da Tijuca nasceu com estrela. Fato: demorou pra “acontecer”. Porém quando teve seu lugar ao sol, viveu intensamente.
“Em seu primeiro show em teatro, afirmava ter 28 anos, com fôlego de 20 e experiência de 40”
Jornal do Brasil – 22 de novembro de 1971.
Se autodefinia “preto, gordo e cafajeste, formado em cornologia, sofrências e deficiências capilares”. Tinha estilo conquistado pelas vivências. Não tinha 17 anos quando partiu – sem dinheiro, sem lugar certo para morar, sem garantias e muita falta de bom senso – de peito aberto para o sonho americano.
Conheceu a black music. Os sons que lhe batiam na alma. O preconceito. O horror. A prisão. As drogas.
Fora do país se encontrou no mais estilo brasileiro. E ao voltar para solo tupiniquim, veio com tudo.
Seus amigos da época – Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Jorge Ben e outros – no gosto do povo. Contudo, juntando essa rapaziada toda, não dava meio Tim. Na voz, na personalidade… No peso.
Porém quem disse que o Pai do Soul se deu por vencido? Abriu caminho à unha, à musicalidade.
E detonou.
Paro!
Vale Tudo – Nelson Motta
Caio de novo no medo do spoiler. Então vamos apenas parafrasear?
Como exímio compositor, tudo era inspiração: para pôster de mulher nua; para bunda de uma empregada em quem ele tinha “olho comprido”. Até pra novela! Produzir era com ele.
Até palavras. Tinha como costume, inventar palavras, dar novos significados. Muitos ficaram imortalizados.
“Garrastazu“: lugar para “torrar unzinho” sem ser incomodado pela vigilância militar.
Sinônimo: mocó, esconderijo.
“Baurete“: cigarro de maconha. Em um festival em Bauru- SP, na companhia da ilustre Rita Lee, pediu “unzinho” para a plateia. Brincou com o nome do famoso sanduíche “Bauru”. Bauruzinho… Baurete…
Sinônimo: baseado, cannabis.
“4-4-6“: aquele que não chega nem a 5. Sujeito meio bobo, cheio de problemas.
Sinônimo: chato, coxinha.
Não posso deixar de citar dois de seus medos curiosos e que me deixaram com riso frouxo.
Pânico de garçom calvo/careca. Oi?
E um medo absurdo de avião.
“Concordo com Tom Jobim: não se pode confiar em algo inventado por um brasileiro, mais pesado que o ar e com motor à explosão”.
Quem sou eu para discordar?
Dono de um humor irreverente, era useiro e vezeiro em fazer chifres na frente das câmeras. Contar piadas de mau tom. Beirando à grosseria. Dava declarações curiosas sem o menor pudor.
“- Pretendo – Comprar uma bunda nova, porquê a atual está rachada”
Questionado sobre projetos novos. 1988
E o gordinho gostava de comer. Lutou contra a balança desde sempre. Para quem pesava mais de 60 kg, aos 12 anos. Chegar aos três dígitos não foi um grande desafio.
Era um efeito sanfona sem fim.
Fica magro – fica gordo. Fica magro – fica gordo.
Sobre um regime muito louco, disse a máxima:
“Fiz uma dieta rigorosa, cortei álcool, gordura e açúcar. Em duas semanas perdi 14 dias.”
Eu ri. Comi um pedaço de chocolate e avancei na leitura.
Todavia, o negócio do dono da Seroma – sua editora musical particular – era cantar.
“É o meu negócio, é onde eu transcendo e vou para outro mundo, é meu trabalho e eu levo a sério.”
Sobre a música.
Junto com a inesquecível Vitória Régia, Sebastião engrandeceu a música nacional com sucessos sequenciais e imortais. Viu Cristina, caiu aos pés do Padre Cícero, curtiu a Festa do Santo Reis, desenvolveu a Terapêutica do Grito e fez quem não segurava crianças, dançar.
Vale Tudo – Som e Fúria de Tim Maia.
Não posso deixar de elogiar o meu querido-inspiração Nelson Motta – já declarei meu amor, e declaro de novo – e confesso que li o livro fantasiando a voz peculiar e carismática desse jornalista metido a compositor. Ou ao contrário?
Em geral, sua obra me bateu fundo. Detalhista. Porém sem aquele “mais mais mais”, não deixou de fora nenhuma idiossincrasia de Tim. Apresentou esse maluquete de forma visceral e deixou, como diz Caetano Veloso, tudo sair ao som de Tim Maia.
Sem mais nada a acrescentar, cito:
“Tim Maia é um dos maiores artistas brasileiros, é uma figura engraçadíssima e é um autêntico Punk.
Ele é o Punk do Funk”
Cazuza.
Mais grave! Mais agudo! Mais eco! Mais retorno! Mais tudo.
E mais bauretes!
Porque com esse som furioso, Vale Tudo.